entrevista

HUMOR POP
A banda paulista Libera o Badaró faz humor juntando referências do mundo pop
por Renato Thibes (entrevista publicada originalmente no site Saladestar)

Os Mamonas Assassinas morreram. Os Sobrinhos do Ataíde se separaram. A união de humor, rock e cultura pop está restrita a poucos criadores, como as bandas-paródias do pessoal do Hermes & Renato na MTV. Eis que surge, no mais livre dos meios – a internet – a salvação para os saudosistas a fim de uma boa gargalhada:Libera o Badaró.

Pouco se sabe sobre a origem e a formação da banda. Sabe-se que ela surgiu em São Paulo, em 1997. Difícil encontrar mais informações em meio à quantidade imensa de sacanagens, brincadeiras e besteirol que domina o site. Aliás, difícil também é imaginar outro meio para a divulgação da “obra” da banda. Suas músicas, disponíveis em mp3 por lá, são grandes apanhados de letras, melodias e arranjos de músicas famosas (sejam elas rock ou músicas infantis), programas de TV, seriados, comerciais – enfim, músicas facilmente reconhecidas por seres humanos que passaram a infância na frente da TV.

Para se ter uma idéia do caldeirão de humor pop que a banda formou, basta dar uma olhada nas descrições de algumas músicas: “Balão Danúbio Azul” transforma Guilherme Arantes em heavy metal; “Domingo Sangrento em Itapuã” coloca “Sunday Bloody Sunday”, clássico do U2, em ritmo de bossa nova; “Unidunitovski” é “Uni-duni-tê”, do Trem da Alegria, em versão russa; “Seu João” coloca uma típica letra de festa junina em “Tears in Heaven” de Eric Clapton; e assim por diante. Reggae, rap, música cubana – nada escapa da mira do LoB.

O site é um capítulo a parte. Ali você encontra, além das músicas para download, o histórico da banda (com todos os nomes bizarros que ela já teve), o perfil duvidoso dos membros, as letras, vídeos com entrevistas, curiosidades e até o calendário da turnê, que deve passar por grandes cidades como Gotham City, Springfield e Twin Peaks. Como você já deve ter percebido, não dá pra acreditar em tudo que esses caras falam.

Mesmo assim, a Saladestar decidiu encarar uma entrevista com o Libera o Badaró. O resultado, você confere abaixo. Acredite no que você quiser.

Como, quando e onde surgiu o Libera o Badaró?
Como? Quando? Onde? Peraí, por que você quer saber? Muito estranho isso. Mas, tá certo. Vamos lá. Existem três teorias:
1) Como: a espátula estava derretendo, o ovo ficou misturado com o plástico e… pimba! A idéia surgiu!
Quando: enquanto você estava dormindo.
Onde: em cima do tupware do molho vinagrete.
2) A banda foi fruto de uma experiência mal sucedida durante o Projeto Manhattan, mas não há nada provado. De qualquer maneira é recomendado não jogar eles de um B-52 em cima de nenhuma cidade japonesa. Outras cidades estão liberadas.
3) Combustão espontânea.

Por que a internet, e não a gravação de um CD normal?
Primeiro, defina normal. [nesse ponto, um mordomo usando uniforme nazista e óculos de Groucho Marx serve o café para todos] Bem, chegamos a tentar meios menos convencionais para distribuir nossas músicas como o encanamento de água ou dentro de caixas de sucrilhos. Mas chegamos a conclusão de a internet era a melhor opção, porque seria mais difícil de nos encontrarem. Mas aí você nos achou e estragou tudo. Só nos resta o CD agora. [mordomo sai cantarolando a Cavalgada das Valquírias]

Vocês estão preocupados com questões de direitos autorais das músicas ironizadas?
[pausa constrangedora] Atualmente, estamos mais preocupados com assuntos de interesse social, como o Gugu e a possibilidade de Sandy ficar grávida do Júnior. [outra pausa, o baterista conta 1, 2, 3, 4 e vem o resto] Mas, na verdade, a única coisa que realmente nos preocupa é que algumas letras são do irmão do guitarrista, que jurou nos processar caso alguém viesse a conhecer a banda. Ah, e Henriqueta Brieba, mesmo não estando mais entre nós, é uma preocupação constante (aliás, de quem não é?). Agora, se alguém processar agente, chamamos o advogado do Gugu e dizemos que era tudo apenas uma pegadinha.

Quais as influências do LoB? A comparação com Mamonas Assassina costuma acontecer?
Além da climática, nossas influências vão de Olavo Bilac à Almodovar, de Gêngis Khan à Charlie Mason, do Juscelino ao Itamar. Escutamos de tudo mesmo. Inclusive temos escutas telefônicas na casa de fãs e personalidades estratégicas como a Fernanda Lima e Daniella Cicarelli. Comparação com quem? Aqueles caras do avião da Cantareira? Parece que os membro se separaram, né? [a banda fica séria e compenetrada por um instante] Na verdade, há mais comparação pelo fato de já termos sofrido vários acidentes aéreos! Mas não, não acontece muito a comparação com eles, mas sim com uma banda chamada “Mr. Válvula Sinistra e os Empurradores de Contêineres”. O que não há problema algum, já que esse era o antigo nome da nossa própria banda, que poderá ser, a qualquer momento, rebatizada como “Papa Nicolau e as Virgens Transgênicas”.

Quais os planos do LoB para o futuro? Quando veremos CD da banda para vender?
Os planos são casamento e talvez um casal de filhos. Cachorro até pode ser, mas gato nem pensar. Estamos cogitando um furão. Nossos planos também envolvem uma cidade muito conhecida, um pozinho branco e um 747! Mas o nosso grande sonho é mesmo abrir um churrascaria e marcenaria 24 horas.
Sobre o CD da banda, afinal, você quer ver, vender ou comprar? A verdade é que só o veremos para vender quando voltarmos a enxergar e, principalmente, quando acharmos alguém para comprar. Também estamos dependendo do parecer favorável do Ibama, da ONU e, claro, de George W. Bush, o que não deverá ser fácil de conseguir.

Deve ter muito internauta que baixa as músicas e grava bootlegs caseiros. Vocês apoiam esta iniciativa?
Não, inclusive estamos processando todos, inclusive o Lars Ulrich, o Maluf e O.J. Simpson. Já tivemos sucesso num dos casos em Kansas, onde uma fã ardorosa da banda, com 13 anos, foi condenada à cadeira elétrica, câmara de gás e enforcamento ao mesmo tempo. Achamos a punição um pouco branda, mas fazer o que se os americanos não sabem combater a pirataria. De qualquer modo podia ser pior: eles podiam estar gravando nossos shows com aqueles minigravadores com som horrível…

As músicas são muito bem trabalhadas e produzidas. Vocês gastam muito dinheiro com isso?
Não! Gastamos com putas e cachaça! [gargalhadas incontidas] E tem um cara na banda, que agora nos foge o nome, que não faz nada o dia inteiro. Para falar a verdade, estamos fazendo três músicas por R$ 1. Mas o objetivo é inverter isso e fazer R$ 3 por música, o que muitos consideram uma utopia. [O mordomo põe a cara por entre o vão da porta entreaberta e diz para a banda “Qué caqui? Qui caqui Cacá qué?” e some de novo depois que um dos integrantes responde “Caca qué quaqué caqui”]

Existe algum gênero musical que vocês ainda não conseguiram zoar?
Existe, a tarantela. Mas estamos preparando um trabalho novo inteiramente baseado nela, com letras em braile e tudo o mais. Tem também a marcha-rancho, mas ninguém na história da humanidade obteve sucesso em zoar esse estilo. Mas não perdemos a esperança. E ainda tem o funk carioca, não exatamente por falta de idéias mas achamos que, na atual circunstância, tirar sarro do pessoal do Comando Vermelho talvez não seja muito saudável.

Vocês têm projetos solos ou paralelos? Qual a formação musical de vocês?
Alguns de nós têm projetos solos. O baixista faz solo de baixo de tina, o guitarrista faz ginástica de solo, o vocal é engenheiro de solos. E todos têm projetos paralelos. Por isso é que a banda só ensaia no infinito. Nossa formação, no caso, é ígnea e se deu por resfriamento vulcânico provavelmente no período Pré-Cambriano do governo FHC. E todos são formados em composição, regência e baliza pela Auto-Escola Objetiva. Musicalmente falando, achamos que o que aconteceu na realidade foi uma deformação.

De onde vocês tiram tantas referências a cultura pop para colocar nas músicas? O LoB seria o resultado do excesso de televisão na infância?
Talvez. Durante a infância do vocalista, o pai dele batia sua cabeça várias vezes contra a televisão, enquanto gargalhava e gritava TELEFUNKEN, TELEFUNKEN! Mas, de modo geral, nada de excesso, apenas falta: de vergonha, de inteligência, de senso crítico, de talento, de dinheiro e, o principal, falta do que fazer. [nesse momento, a polícia invade a casa e prende os integrantes da banda e o mordomo]